Febre Sertaneja

O sertanejo é um dos estilos musicais mais ouvidos pelos brasileiros e ao longo do seu primeiro século de existência passou por três fases bem distintas: a moda de viola contando ‘causos’ caipiras, a fase romântica e o sertanejo universitário que tem dominado as paradas de sucessos nos últimos anos. Que tal conhecer um pouco mais sobre a trajetória da música que acompanha o povo brasileiro desde a década de 1920?

Por que Sertanejo?

O termo sertanejo faz uma referência ao habitante da região Nordeste do Brasil que enfrenta as dificuldades da seca. No entanto, com o passar do tempo o nome do estilo musical foi se desvencilhando dessa origem estando mais próxima da ideia de indivíduo caipira, aquele que vive e trabalha no meio rural.

Trajetória da Música Sertaneja

O Nascimento do Estilo Sertanejo

1918 – A Criação da Figura do Caipira

Antes de falar sobre o nascimento da música sertaneja é importante destacar o momento em que surgiu o estereótipo do caipira, tão importante para a primeira fase do estilo musical. Monteiro Lobato criou o personagem Jeca Tatu para o seu livro ‘Urupês’ de 1918 caracterizando o caipira como um sujeito passivo e preguiçoso. O avançar dos anos mudará essa visão.

1924 – Registro do Primeiro Grupo Sertanejo

No ano de 1922, Mário de Andrade junto com outros nomes importantes da arte, organizou a chamada Semana da Arte Moderna em que foi dedicado um espaço para a divulgação do que se chamou de grupo sertanejo com uma mistura interessante de ritmos como a moda de viola e catira (dança que se baseia no bater de mãos e pés).

Porém, foi em 1924 que se teve o registro do primeiro grupo oficial de música sertaneja intitulado como ‘A Turma Caipira de Cornélio Pires’. Para quem não conhece o folclorista Cornélio Pires (1884 a 1958) foi um dos nomes mais importantes do começo da trajetória da música sertaneja. Já em meados de 1912 ele havia lançado um livro de versos típicos intitulado ‘Musa Caipira’.

1929 – Composição de ‘Jorginho do Sertão’

Quase na década de 1930 Cornélio Pires criou a música ‘Jorginho do Sertão’ em que conta a história de um rapaz que ao invés de pagamento recebe do patrão a mão de uma de suas três filhas. No mesmo ano de 1929 Pires foi o responsável pelo primeiro registro fonográfico do estilo sertanejo. Como a gravadora Colúmbia não quis investir em seu projeto, por não acreditar nele, o sertanejo resolveu bancar a produção do seu próprio bolso. O disco esgotou rapidamente nas lojas.

1930 – Surgimento das Primeiras Duplas Sertanejas

A década de 1930 começou luminosa para os sertanejos, pois com o sucesso alcançado por Cornélio Pires diversas gravadoras se interessaram em gravar álbuns do estilo. A RCA brasileira foi uma das que mais investiu assim como o braço norte-americano apostou no country nos Estados Unidos. Surgiu então o grupo ‘Turma Caipira da Victor’ que empreendeu uma competição saudável com a turma de Cornélio Pires.

Os nomes de destaque da primeira geração de duplas, que começaram a se formar ainda na década de 1920, são ‘Zico e Ferrinho’, ‘Mariano e Caçula’ e ‘Sorocabinha e Mady’. Na década de 1930 surgiu uma das duplas mais icônicas da primeira fase do sertanejo ‘Alvarenga e Ranchinho’ que tinham um estilo bem descontraído, algo que culminou até mesmo na sua prisão durante o governo Getúlio Vargas.

1939 – Violão na Música Sertaneja

Foi nesse ano que a dupla ‘Raul Torres e Serrinha’ introduziram o violão no estilo sertanejo. A mesma dupla foi responsável por mais uma inovação, a criação de um programa de rádio chamado ‘Três Batutas no Sertão’ que comandado por eles junto a José Rielli. Nesse momento já existiam duplas de estilos variados sendo que algumas cantavam histórias alegres e engraçadas enquanto outras se dedicavam a falar sobre as tristezas do caipira.

Conhecendo as Três Fases da Música Sertaneja

Primeira Fase – Sertanejo Tradicional

A primeira fase da história do estilo musical sertanejo é reconhecida como aquela da moda de viola e pode ser estabelecida num período desde sua criação até meados dos anos 1960. Num primeiro momento os cantores sertanejos estavam focados em modas de viola e toadas que tinham como assunto central histórias com alguma lição de moral. O instrumento mais usada nas primeiras décadas de desenvolvimento do estilo era a viola caipira.

Uma segunda etapa dentro da primeira fase pode ser identificada a partir de 1945 com destaque para a dupla ‘Tônico e Tinoco’. As canções passam a ter o acompanhamento de violões e as histórias apresentadas nas modas falam sobre o universo do sertanejo. Os vaqueiros e o caipira são protagonistas de letras fortes como a canção ‘Chico Mineiro’ da citada dupla. Os cantores interpretam as canções em duetos com vozes paralelas com intervalo de uma terça.

Após o final da segunda guerra mundial se teve a adição de novos instrumentos ao estilo sertanejo com destaque para acordeom e harpa. A forma de interpretar as canções também passa por mudanças com duetos e intervalos distintos. Embora ainda sejam feitas canções sobre a vida do sertanejo aos poucos surgem músicas mais românticas anunciando o próximo capítulo dessa história. As duplas de destaque dessa etapa são: ‘Sulino e Marrueiro’, ‘Irmãs Castro’, ‘Tião Carreiro e Pardinho’ além de ‘Milionário e José Rico’.

Segunda Fase – Sertanejo Romântico

A modernização do estilo sertanejo teve início na década de 1960 com a introdução da guitarra elétrica (destaque para a dupla ‘Leo Canhoto e Robertinho’) e do surgimento de Sérgio Reis que inicialmente era um artista da Jovem Guarda. Quando Reis começou a gravar músicas de raiz sertaneja chamou atenção de um novo público para o estilo. As músicas passam a ter solos intercalados com duetos em músicas em estilo balada que falam sobre amor.

Algo interessante é que alguns artistas solo chegaram ao sucesso no estilo sertanejo mesmo havendo a dominação das duplas, fenômeno que se repetiu na terceira fase. Nas décadas de 1970 e 1980 as duplas sertanejas românticas se consolidaram promovendo uma verdadeira mudança nas características do estilo. Houve alguma discussão a respeito do fato de deixar as raízes para trás, mas não com tanta intensidade como se vê na terceira fase.

Os principais nomes dessa fase são Chitãozinho e Xororó, Zezé di Camargo e Luciano, Roberta Miranda, João Mineiro e Marciano, Nalva Rei além de Chico Rei e Paraná.  Músicas dessa fase romântica que são verdadeiros símbolos do sertanejo são ‘Fio de Cabelo’, ‘Coração de Papel’ e ‘Pense em Mim’.

Terceira Fase – Sertanejo Universitário

A partir dos anos 2000 a música sertaneja passou por novas transformações novamente mudando o tema principal das suas canções. Se na primeira fase o tema era o caipira e na segunda o amor romântico na terceira passou a ser as baladas e os relacionamentos sem compromisso. Há espaço também para músicas que falam sobre traição (no subgênero sofrência) e ostentação com influência do funk.

O novo formato trouxe reações bastante apaixonadas daqueles que gostam e daqueles que acreditam que se trata de uma desvirtuação do estilo que recebeu a alcunha de ‘universitário’ foi fazer parte dos momentos de lazer de jovens estudantes. A transição das temáticas acompanhou o interesse crescente das grandes cidades pelo sertanejo. As músicas falam sobre o que o público que as ouve vive para que haja uma identificação.

Os artistas de maior destaque dessa nova fase são João Neto e Frederico, Luan Santana, Gusttavo Lima, Jorge e Mateus entre outros. Dentro do sertanejo universitário tem se desenvolvido outro gênero conhecido como ‘feminejo’ em que as grandes estrelas são as mulheres com destaque para Marília Mendonça, Maiara e Maraísa, Simone e Simaria e Naiara Azevedo.


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Categoria(s) do artigo:
Sertanejo

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