Clara Nunes foi uma das cantoras mais populares do Brasil entre os anos 60 e 80 com músicas que falavam principalmente da cultura africana. Hoje se perguntarmos alguns de seus sucessos, “Morena de Angola”, “O Mar Serenou”, “Conto de Areia”, “Canto das Três Raças” e algumas outras serão citadas. Clara bateu de frente com uma sociedade, de certa forma, ainda preconceituosa com letras que mostravam o culto à entidades da umbanda como algo normal.
Apesar de diversas polêmicas com a qual foi envolvida devido suas canções, Clara até hoje está entre os nomes mais citados quando falamos em musica puramente popular do nosso país. Vale muito a pena conhecer um pouco sobre essa artista que infelizmente nos deixou cedo demais. Vivemos em um tempo onde a música brasileira anda precisando de músicas com muita personalidade, como as de Clara.
Clara Francisca Gonçalves Pinheiro
Este é na verdade o nome de batismo dessa cantora que nasceu na cidade de Paraopeba em Minas Gerais, no dia 12 de agosto de 1942. Clara é a filha mais nova de uma família de sete filhos formada pelo casal Manuel Ferreira de Araújo e Amélia Gonçalves Nunes, onde ele era marceneiro e conhecido pela cidade inteira como Mané Serrador. Em suas horas de folga, o Mané então tocava viola pelas festas do município para diversão e muitas vezes ganhar um dinheiro extra para ajudar na renda da família.
Clara apesar de muito nova, já adorava ouvir o pai tocar, mas isso só durou 2 anos porque o senhor Mané Serrador faleceu em 1944, quando Clara ainda nem falava direito. Pouco tempo depois a sua mãe também veio a falecer e ela foi morar com a irmã e o irmão. Nessa mesma época ela passou a participar de aulas de catecismos como atividade e assim começou a cantar, apresentando ladainhas em latim no coro da Cruzada Eucarística.
Em 1952 Clara participou de um concurso de canto em sua cidade e levou o primeiro lugar cantando a música “Recuerdos de Ypacaraí”. Como prêmio ela recebeu um lindo vestido azul que guardou por muitos anos como lembrança. Como não tinha condições de se manter apenas com a música, aos 14 anos Clara entrou para trabalhar na mesma empresa que seu pai tinha sido funcionário.
A vida de Clara então mudou totalmente quando seu irmão assassinou seu namorado em 1957 e a garota mudou para Belo Horizonte e foi morar com sua irmã Vincentina. Já na capital mineira ela voltou a frequentar a igreja do bairro e cantar no coral. Foi onde conheceu o violonista Jadir Ambrósio, compositor do hino do Cruzeiro e que levou Clara para cantar nas rádios locais, se apresentando como Clara Francisca.
De Clara Francisca Para Clara Nunes
Como já estava bem conhecida nas rádios de Belo Horizonte, Clara passou a se apresentar em diversas outras festas da cidade. Foi então que conheceu Aurino Araújo, que é irmão do cantor Eduardo Araújo, que foi quem levou Clara para conhecer diversos outros artistas e com quem a cantora namorou por 10 (dez) anos. Foi através de Aurino que Clara conheceu o produtor musical Cid Carvalho, que passou a trabalhar para ela e a primeira mudança que indicou para a cantora foi a troca do nome. Clara escolheu o Nunes por ser o sobrenome de solteira de sua mãe.
A partir de 1960, Clara Francisca passou a ser então a conhecida Clara Nunes e foi também a partir desse mesmo ano que a cantora tornou-se conhecida no Brasil inteiro. Ela chegou ao sucesso logo que venceu a etapa mineira do concurso “A Voz de Ouro ABC”, cantando a música “Serenata do Adeus”, de Vinicius de Moraes. Dessa etapa Clara Nunes foi para São Paulo disputar a final onde levou o terceiro lugar com a música “Só Adeus” de Jair Amorim e Evaldo Gouveia.
Da Rádio à Televisão
A primeira apresentação em televisão de Clara Nunes foi no programa de Hebe Camargo, que nessa época trabalhava em uma emissora de Belo Horizonte. No ano de 1963 ganhou um programa só seu na TV Itacolomi, com o nome de “Clara Nunes Apresenta” e ficou no ar por 1 (um) ano e meio.
Clara logo que perdeu seu programa mudou-se para o Rio de Janeiro.
Os Primeiros Discos
Foi quando mudou para o Rio de Janeiro que Clara teve a oportunidade de gravar seu primeiro disco, isso em 1965, quando participou de um LP da rádio Inconfidência juntamente com outros artistas. O primeiro disco somente da cantora saiu em 1966 com o nome de “A Voz Adorável de Clara Nunes”. Apesar de ter um disco nacionalmente lançado, Clara Nunes só disparou de vez para o sucesso em 168 quando gravou um disco todo de samba chamado de “Você Passa e Eu Acho Graça”.
Em 1970, Clara Nunes viajou para se apresentar em Luanda, capital de Angola e de lá voltou completamente apaixonada pela cultura local e foi exatamente quando decidiu encabeçar as crenças afro. Lançou então um disco chamado “É Baiana” e em 1971 o álbum “Ilu Ayê”, que possui diversas canções que falam da umbanda e de orixás. Clara a partir de então declarou-se convertida por tal religião e passou a se apresentar com roupas tradicionais de tal fé. Foi com tais canções que Clara conseguiu seu público recorde e ao mesmo tempo diversas críticas populares.
Últimos Anos De Clara
O sucesso de Clara estava no máximo quando a cantora, em 1983, decidiu fazer uma pequena cirurgia para a retirada de algumas varizes e então teve uma reação alérgica gravíssima devido a um anestésico. Nesta ocasião Clara entrou em coma e passou 28 dias internada na UTI da Clínica São Vicente, na cidade do Rio de Janeiro. Durante todos esses dias as complicações aumentaram e a especulação sobre o real motivo do seu problema também começou a aparecer na mídia.
Foi então que no dia 2 de abril de 1983, Clara Nunes veio a falecer aos 39 anos por um choque anafilático. Até hoje se discute o que de fato aconteceu já que a sindicância do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro que foi aberta na época acabou por arquivada.