Há quase 50 anos um dos mais populares gêneros musicais nascia em Nova York. No dia 11 de agosto de 1973 aconteceu uma festa no bairro do Bronx que mudou para sempre o destino da música mundial. O DJ Kool Herc, organizador da festa, quis inovar tocando somente música instrumental e breaks de soul e funk.
Os participantes da festa adoraram a proposta e não demorou para que MCs passassem a adicionar rimas às batidas de fundo. A partir dessa noite a cultura hip hop se transformou e passou a ter muito mais presença em áreas como moda, dança e arte. Por muitos anos o hip hop permaneceu somente nas ruas nova-yorkinas tendo impulso para exportação a partir da música “Rapper’s Delight” do grupo Sugarhill Gang e que foi lançada em 1979.
Hip Hop no Brasil
As primeiras sementes do hip hop no Brasil germinaram em São Paulo em 1986, os jovens se interessaram pelo movimento que estava ganhando repercussão nos Estados Unidos. As músicas diretamente vindas do Bronx eram ouvidas na Galeria 24 de Maio e na estação São Bento. Além de ouvir as músicas os jovens moradores de regiões periféricas criavam passos de dança.
Os dançarinos de break foram os primeiros a frequentar esses espaços sendo que um dos pioneiros foi Nelson Gonçalves Campos Filho (conhecido como Nelson Triunfo), um dos mais destacados dançarinos do Brasil. O lançamento do filme ‘Beat Street’ (Na Onda do Break) em 1984 também colaborou para a difusão musical no país. Como não havia internet esse filme funcionou como a ferramenta para apresentar aos brasileiros o hip hop. Também em 1984 o grupo norte-americano Public Enemy fez seu primeiro show em São Paulo impactando muitos jovens com o hip hop.
Identidade Cultural
Um dos principais motivos para o sucesso do hip hop no Brasil foi a satisfação da busca por uma identidade cultural do jovem negro periférico. Num contexto de uma sociedade mergulhada no preconceito racial e sob um regime de ditadura, o hip hop, se tornou um meio de expressão desses jovens excluídos.
Rappers como Rappin Hood, que está desde o início no movimento, viveram diversas situações de repressão em que a polícia fazia batidas apenas pelo tipo de música que eles cantavam. Essa música tinha o poder de elevar a autoestima do jovem em situação de risco e esquecido pelas outras camadas sociais.
Primeiro Álbum de Rap no Brasil
O primeiro disco exclusivamente de rap no Brasil foi lançado em 1988 com o nome de “Hip-Hop Cultura de Rua”, trata-se de uma coletânea de canções de MC Jack, Thaíde e DJ Hum. Em 1989 foi lançada a coletânea “Consciência Black, Vol. I” responsável pela projeção de um dos mais importantes grupos de rap do país, os Racionais MC’s. Formam o grupo: Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay. Suas músicas falam sobre a pronunciada desigualdade social que existe no Brasil.
Hip-Hop Cultura de Rua
Bailes Black
Não demorou para o hip hop se espalhasse por toda São Paulo, muitos grupos de jovens passaram a se reunir nos fins de semana para escutar as músicas e dançar. Foi a partir daí que nasceram os bailes black com destaque para o Chic Show que ajudou a consolidar inúmeras tendências musicais. Gravadoras e programas de rádio foram criados para atender as demandas do público que gostava de hip hop.
O fim da década de 1980 contou com o lançamento de algumas excelentes coletâneas como “Situation RAP” (FAT Records) e “O Som das Ruas” (Chic Show). Nos anos 1990 o rap passou a tocar nas rádios, algo que fez com que a indústria musical da época desse mais atenção para o estilo periférico. O DJ Natanael Valêncio foi o primeiro a levar ao ar um programa completamente dedicado a tocar rap na Rádio Imprensa.
Novos Nomes
A década de 1990 também trouxe novos nomes para a cena como MV Bill, Xis, Câmbio Negro, Pavilhão 9 e Detentos do Rap. Em 1995 foi lançado o clássico “Juventude de Atitude” de Facção Central que se tornou o nome mais proeminente dentre os gangsta do Brasil. Os temas retratados incluem repressão policial, pobreza, violência e crime. Em 1999 foi lançado o clipe “Isso Aqui é Uma Guerra” que foi proibido pelo Ministério Público.
Os Racionais MCs lançaram seu primeiro álbum em 1993 com o nome de “Raio X do Brasil”.
O trabalho foi tão bem-sucedido que levou o grupo a abrir o show do Public Enemy, em São Paulo. Canções icônicas como “Homem na Estrada” e “Fim de Semana no Parque” estão nesse álbum. Em 1997 o grupo lançou o álbum “Sobrevivendo no Inferno” que até hoje é uma referência para o rap nacional. No ano de 2018 foi obra obrigatória no vestibular da UNICAMP.
Cenário Atual
Da chegada do hip hop ao Brasil aos dias hoje houve algumas mudanças que merecem ser destacadas como a diminuição do preconceito com o estilo e o maior alcance ultrapassando os limites da periferia. Mesmo com a incorporação de novos gêneros musicais as letras do rap continuam denunciando as injustiças sociais.
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